16 de abril foi o dia em que Recep Tayyip Erdoğan desejou enfim tornar-se eterno — mas acabou por ser o dia que marcou a aceleração do turbilhão que paira sobre a Turquia, deixando mais incertezas do que seguranças.
O referendo constitucional que ditou uma vitória controversa do “Sim” com 51,41% dos votos, levantando promessas de contestação por parte da oposição, é ainda assim o culminar de uma caminhada imparável do homem que foi eleito primeiro-ministro em 2003 e que em 2014 passou a ser Presidente — cargo que, com as novas regras em jogo, poderá desempenhar até 2029.
O conservador islamita de 63 anos, que ganhou notoriedade à frente da câmara de Istambul entre 1994 e 1998, torna-se cada vez mais numa figura indissociável de uma Turquia que vira as costas à Europa e procura tornar-se numa potência do mundo islâmico.
Aos poucos, o legado de Mustafa Kemal Atatürk apaga-se — e as referências a este, até há pouco tempo uma figura constante no discurso político turco, desaparecem.
Tanto que, na altura de assumir a vitória, Erdoğan disse:
Que Deus nos ajude a usar o nosso voto para uma democracia melhor.”
Esta é uma entre as várias citações de Recep Tayyip Erdoğan, o Presidente da Turquia, num discurso numa conferência de imprensa.
Inicialmente, numa altura em que as dúvidas eram poucas e as contagens davam uma vantagem confortável ao “Sim”, foi anunciado que os jornalistas iriam ter direito a fazer perguntas.
Porém, mais tarde, quando a diferença para o “Não” era cada vez mais curta, muito em parte porque as três maiores províncias da Turquia escolheram essa opção, a conferência de imprensa deixou de ter direito a perguntas.
Erdoğan não quis deixar espaço para dúvidas.
“O dia de 16 de abril é um dia importante para demonstrar ao mundo que o nosso povo, os nossos cidadãos, a nossa nação depositaram os seus votos para proteger a democracia que temos no nosso país”, disse o Presidente turco, numa altura em que os votos na Turquia já estavam praticamente todos contados, ao contrário dos votos dos imigrantes.
“É um momento histórico, não é um dia normal, não é um dia banal, é uma mudança séria que está a acontecer na Turquia.”
O dia 16 de abril foi de facto “um momento histórico” e um dia longe de ser “normal” ou “banal”.
A alteração do sistema político turco — que será aplicada após as eleições legislativas e presidenciais de outubro de 2019 — de semi-parlamentar para presidencial marca uma viragem à qual a maior parte da oposição (com exceção dos nacionalistas do MHP) se opôs.
Porém, no final da jornada eleitoral de domingo, a oposição não procurou discutir o conteúdo do referendo mas a forma como ele decorreu.
A oposição acusou o Comité Eleitoral Supremo de ter defraudado a legitimidade do referendo por ter, pouco depois do fecho das urnas, anunciado que ia contar como válidos os boletins que não tivessem o selo oficial — uma decisão que vai contra a lei turca.
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