sexta-feira, 29 de julho de 2016

Execução orçamental de junho. Brincar com coisas sérias

Execução orçamental de junho. Brincar com coisas sérias
Luís Teles Morais e Henrique Lopes Valença
                                    29 Julho 2016




















Talvez fosse melhor Governo e oposição concentrarem-se nas desilusões do investimento, do crescimento e das exportações e menos em sanções e em brincadeiras com os números do défice.


Estava tudo a pensar nas sanções
Ponto prévio: perdoar-nos-á o leitor que usemos um tom algo mais ligeiro do que o habitual, nesta última análise antes de férias. 
Mas não o tome, nem o título, como alguma alusão velada à gestão das finanças públicas, este ano. 
Achamos que não é o caso.

Mas hoje não conseguimos conter este bom(?) humor, depois da grande vitória conseguida a 27 de julho, no último fôlego do prolongamento, em mais um campeonato europeu que apaixonou o país. 
Será que foi Carlos Moedas que se descobriu Eder? 
Ou terá sido mestria tática do “mister” António Costa? 
“Não interessa, não interessa, se jogamos bem ou mal…”

De resto, é também devido à novela sancionadora que só hoje lançamos a nossa análise, pois a nossa estimativa aguardava a confirmação do respetivo valor.


No Ministério também se brinca (mas não com coisas sérias)
Vamos aos números: neste primeiro semestre, o défice das Administrações Públicas, em contabilidade pública, cifrou-se nos 2.867 milhões de euros, uma redução de 971 milhões (cerca de um quarto!) em relação ao mesmo período de 2015. 
Fantástico!

No entanto, o resultado do mês de junho foi negativo em quase 2.500 milhões de euros, já que em maio o défice se situava em apenas 395 milhões (um aumento de 633%!). 
Venha o segundo resgate! 
Ainda assim, foi bastante melhor do que em junho de 2015, em que o défice atingiu 3.000 milhões de euros. 
Então, em que é que ficamos?

Na verdade, estas variações bruscas do défice, de mês para mês, não surpreendem dadas as tendências dessincronizadas da receita e da despesa – mais ainda mais se falamos de contabilidade de caixa. 
Reforçam o que vimos dizendo (aqui) sobre como faz pouco sentido utilizar o défice mensal para tirar grandes conclusões sobre a situação orçamental, algo com que o discurso oficial tem brincado bastante nos últimos meses.


Se tem pouco tempo, passe diretamente para esta secção
A análise destes dados não se pode ficar por comparações homólogas: a boa execução mede-se em relação às previsões do Orçamento do Estado (OE). 
Isto, que é também um cruel exercício de avaliação da qualidade das (difíceis) previsões, é o que nos permite tentar perceber se as metas serão ou não atingidas.

Este mês, com os dados completos do primeiro semestre, e embalados por esta dinâmica de vitória, arriscamos pela primeira vez uma previsão para o défice no final do ano. 
Esta tem limitações significativas, próprias da metodologia aqui utilizada, mas o histórico é razoável: por exemplo, a nossa previsão com os dados de junho de 2015 acertou “na mouche”, excluindo o efeito Banif (3% segundo o Conselho de Finanças Públicas, CFP). Mas foi também sorte, certamente, por isso tome o que se segue “com uma pitada de sal”.

Parece difícil que se atinja o objetivo do Orçamento (em contabilidade pública, de 2,9% do PIB). 
Mas isso, apostamos consigo que em 2026 também acontecerá. 
Uma previsão mais interessante é esta: achamos provável que o défice se situará, no final do ano, entre os 3,4% e os 3,6% (sublinhamos: em contabilidade pública).

Isto significa [1] que o défice que interessa, em contabilidade nacional, se situaria entre os 2,7% e os 2,9% – bem acima da previsão do Governo, algo abaixo da previsão da Comissão Europeia; abaixo do limite dos défices excessivos (3%), mas acima da meta proposta ontem (2,5%) pela mesma Comissão (pois, é que entre a previsão dos serviços da Comissão e a meta proposta pela própria Comissão, vão quilómetros de corredores climatizados).

Se acertássemos no desvio que estimamos hoje, o défice ficaria em 2,8% – um decréscimo face a 2015 (ligeiro sem BANIF, substancial incluindo-o). Mas virá este gráfico a ter mais um retângulo de cor diferente? (Clique sobre o gráfico para aumentar)






























Sem surpresa, este potencial desvio na ordem dos 0,5 a 0,7 pontos percentuais baseia-se fundamentalmente na evolução fraca da receita dos principais impostos (principalmente, IVA e IRC). 
Destaca-se, também, o que começa a parecer alguma suborçamentação das despesas com o pessoal.

Dois grandes desvios num mar de pequenas boas notícias deverão fazer afundar um pouco o défice (Clique sobre o gráfico para aumentar)










Deixem lá os fantasmas da dívida não-financeira…
Tem sido propalada a ideia – pela oposição e na opinião pública – de que a “boa” execução do lado da despesa se deve, em parte importante, ao crescimento da dívida não-financeira e, mais concretamente, aos pagamentos em atraso. 
É a ideia de uma bomba-relógio “como a ostra que esconde a pérola aos viveiros” (com a devida vénia), emulando as tristes figuras de 2009/10, completamente diferentes na revisão final face ao que então aparecia na execução.

Por nós, não acreditamos em fantasmas. 
Reembolsos de IRS? 
Só têm efeitos, no máximo, entre meses do ano. 
Fundos europeus? 
A quebra parece ter correspondência na receita. 
Houve um aumento, sim, da dívida a fornecedores. 
Mas este é de dimensão relativamente pequena (tal que continua a ser inferior à registada há um ano). 
Não há razões para achar que possa haver muito a ser “maquilhado” dessa forma, nada que vá justificar uma má surpresa, das grandes, mais à frente.

A dívida a fornecedores subiu pelo segundo mês consecutivo, mas está abaixo do registado há um ano (Clique sobre o gráfico para aumentar)























Nem podia haver. 
É que no âmbito do Programa de Assistência, os pagamentos em atraso foram alvo de grande atenção por parte da “troika” – em princípio, precisamente por aquilo que tinha acontecido um ano antes da sua chegada. 
E, assim, entre as primeiras medidas no PAEF estavam as relacionadas justamente com o controlo dos mecanismos geradores de dívida não-financeira.


Essas medidas desembocaram em melhor controlo da informação, que se revela, por exemplo, nas sínteses da execução orçamental, mas também em legislação mais apertada, destacando-se aqui a Lei dos Compromissos e Pagamentos em Atraso aprovada pela Assembleia da República logo no primeiro ano do PAEF (entretanto já vigora uma nova versão).


… mas talvez seja boa ideia levar os Ghostbusters ao hospital
Há uma exceção à não-questão da dívida a fornecedores: os Hospitais EPE (Entidade Pública Empresarial). 
Não tanto (para já?) pela sua dimensão. 
Mas a retoma de uma tendência que parecia finalmente debelada sugere que os problemas institucionais e de gestão que induzem o crescimento desta dívida não foram ainda resolvidos. [2]

Retome o gráfico acima. 
Olhe-o muito fixamente, focando intensamente as linhas cheias e a tracejado ao mesmo tempo (esta parte é importante), com muita atenção. 
Ao fim de alguns segundos, em princípio, vão aparecer-lhe (pelo menos) três fantasmas!

São eles: 
i) o aumento nos últimos dois, três meses dos pagamentos em atraso deve-se quase exclusivamente aos ditos hospitais (veja-se como a subida da dívida global corresponde quase integralmente à destes); 
ii) o valor dos pagamentos em atraso dos Hospitais em junho já ultrapassou o valor mais elevado atingido durante 2015 (ao contrário do que acontece com o global); 
iii) embora o peso desta dívida seja sempre grande, em nenhum momento dos últimos dois anos esta representou uma “maioria absoluta” dos pagamentos em atraso, como acontece agora.


Assumindo (até porque a própria Direção Geral do Orçamento o refere) que será feito um esforço no sentido de regularizar estas dívidas ao longo do segundo semestre, incluímos na nossa estimativa (limite superior) um efeito adicional (o efeito Ghostbusters?) na aquisição de bens e serviços. 
Assumimos que terá lugar uma redução desta dívida até ao final do ano, até ficar com o mesmo valor que tinha em dezembro de 2015. 
De qualquer forma, a diferença acaba por ser de dimensão relativamente reduzida (pouco mais de 200 milhões de fantasmas).


Narrativas pouco cativantes
Apesar de estarem a ser muito discutidas, as cativações não influem de forma importante num exercício como este. 
Os montantes correspondentes já estão considerados quer nos dados históricos e atuais da execução, quer (embora com algumas diferenças na sua classificação) nas metas do Orçamento.

Mas mesmo num plano mais geral – e tendo em conta o histórico recente de utilização quase integral das cativações e reservas – constituem sobretudo uma ferramenta de gestão orçamental ou, talvez melhor, de resolver problemas de má gestão orçamental (algo para que a UTAO e o CFP já estarão cansados de advertir).

Funcionam mais como um instrumento que permite ao Ministério das Finanças (ME) de forma administrativa impor um maior controlo sobre a despesa, dando-lhe capacidade de, se necessário, negar aos serviços uma determinada parte dos fundos estabelecidos no Orçamento e, no mínimo, obrigá-los a justificar explicitamente a necessidade da sua utilização.

Daquilo que conseguimos apurar, os famosos “cativos” (referidos por exemplo na recente carta do Ministro à Comissão) referem-se sobretudo a uma parte da despesa em consumo intermédio (196,6 milhões de euros), que embora esteja contabilizada como tal no OE, faz parte da reserva orçamental, e como tal depende de autorização do MF para poder ser “descativada” (i.e. poder ser utilizada).

Depois existe o remanescente da reserva orçamental (257,4 milhões de euros), e ainda a dotação provisional (542,8 milhões de euros). 
Todos estes montantes estão centralizados no Ministério das Finanças e, de acordo com a informação mais recente, não têm de facto sido utilizados, embora não seja crível que tal se mantenha assim.

Outra referência que tem surgido é a “cativação” dos valores referentes à reposição salarial (447 milhões de euros). 
Mas (segundo o CFP) este valor, embora esteja centralizado no Ministério das Finanças e necessite de autorização para ser utilizado, já está contabilizado na despesa com o pessoal.


Segundo uma notícia do início deste mês, não tinha ainda sido utilizado qualquer montante desta parte. 
Mas – até considerando a evolução complicada da despesa com o pessoal – sê-lo-á certamente até ao final do ano. 
De resto, é natural que os serviços só recorram a ele quando “se acabar” a disponibilidade já existente para pagamentos ao pessoal. 
Mais uma vez, trata-se apenas de um mecanismo para facilitar o controlo da despesa por parte do MF. 
Força e coragem, são os nossos votos para quem no MF ficar responsável por tratar a enxurrada de pedidos que irá por certo cair, lá para outubro.


Receita fiscal: os grandes desiludem, os pequenos ajudam como podem
A receita fiscal do subsetor Estado aumentou 3,2% face ao primeiro semestre de 2015. Nada mau, mas tendo em conta o aumento de 5,4% previsto no Orçamento, fica bastante aquém do necessário. 
A receita dos principais impostos (sobretudo, IVA e IRC) poderá revelar-se o verdadeiro calcanhar de Aquiles da execução orçamental.

Este resultado não é surpreendente, já que a receita fiscal é um dos elementos que mais depende da evolução da atividade económica. 
E, por isso, apesar dos melhores esforços do Governo, a sua execução é bastante influenciada pelas divergências entre as previsões e a realidade depois observada.

Enquanto o Orçamento previa um crescimento real do PIB de 1,8% para 2016, os dados do primeiro trimestre do INE apontam para um crescimento homólogo de 0,9%. 
Esta dissonância entre o crescimento previsto e o observado poderá ser confirmada quando forem conhecidas as estimativas rápidas do INE para o segundo trimestre de 2016, mas é certo que ficará aquém (a Comissão, aqui mais simpática, ainda prevê 1,5%).

Mas se até aqui só o IVA e o IRC davam dores de cabeça ao Governo, face ao registado até ao mês anterior, há más novidades adicionais. 
Dizem respeito ao IRS e ao Tabaco.

No IRS, para o qual o OE já previa uma descida em 2,4% (por força da eliminação parcial da sobretaxa), o aumento dos reembolsos em junho (mais 125 milhões de euros do que em 2015) foi o suficiente para que se tenha registado uma queda homóloga de 3%. 
Nos próximos meses avaliaremos se se trata meramente de uma alteração do perfil temporal dos reembolsos, que será suavizada ao longo do tempo. 
Mas parece que se terá esfumado o desvio positivo que se antevia neste imposto.

Já o Imposto sobre o Tabaco continua a prometer arrecadar mais receita que o previsto no OE. 
Mas se antes parecia fumo de jato, começa a ver-se um ritmo mais vaporoso: até abril, a receita era o dobro do mesmo período de 2015, em maio, mais 75%, e em junho voltou a descer: agora temos mais 52,9%. 
Se o ano acabasse agora seria ótimo, mas a este ritmo começa a estar em causa se o aumento de receita previsto no Orçamento, de 22%, será atingido.

Importa lembrar que este abrandamento se deve à já famosa “baixa introdução no consumo do início do ano” – os comerciantes esgotaram, primeiro, o tabaco adquirido ainda com a estampilha correspondente à taxação antiga, e portanto é natural que tenha havido algum front-loading destas receitas. 
Só a partir daqui perceberemos se a eventual redução do consumo anula, ou não, o adicional de receita obtido graças ao agravamento da taxação. 
Já aqui tínhamos alertado para os perigos do tabaco…

Nos restantes impostos, com ligeiras oscilações, as notícias, ora boas ora más, mantêm-se. No IRC, a principal desilusão do último mês, as previsões continuam negativas, embora tenha havido alguma recuperação durante o mês de junho. 
Como já tínhamos referido, a receita de IRC é fortemente descontínua ao longo do ano. 
O mês de maio é sempre o mais importante (mais de 25% da receita anual) por isso já dificilmente se reverterá a tendência. 
Mas o mês de julho, também importante (representa 15-17% da receita anual), será o mais indicado para se confirmar esta tendência negativa.

No IVA, o maior dos impostos, não se registam grandes alterações face ao observado no mês anterior, tornando mais sólida a previsão de um desvio negativo na ordem dos 760 milhões de euros nesta rubrica, se considerarmos os potenciais efeitos da descida do IVA da restauração (isso sim, foi brincar com coisas sérias) que se começarão a sentir este mês.

Já no ISP as notícias são boas. 
A brincar, a brincar, levámos a sério este exercício. 
Apesar de uma reformulação contabilística que acrescenta bastante complexidade [3] à análise da execução deste imposto – que se traduz numa evolução muito irregular, como se pode ver no gráfico – atirámo-nos a mares muito traiçoeiros e conseguimos chegar a uma estimativa razoável. 
A boa evolução do ISP deverá traduzir-se numa receita acima do previsto no Orçamento em de cerca de 250 milhões de euros.

O Imposto do Selo e a receita de taxas e multas também prometem ser uma ajuda modesta, mas importante, no fim do ano. 
Mas – lá está – apesar dos melhores esforços dos “pequenos”, os “grandes” é que estão a dar cabo disto. 
Tudo somado, prevemos nesta fase – e nesta frase que será decerto escolhida para lead – que a receita fiscal ficará mais de mil milhões de euros abaixo da meta.


A contabilização de impostos indiretos SFA nos primeiros três meses foi feita à custa da receita de ISP, devido ao atraso na reformulação contabilística introduzida pelo Orçamento (Clique sobre o gráfico para aumentar)














A sustentabilidade da Segurança Social está garantida?
Nem por isso, mas apesar de tudo este ano está a dar uma boa ajuda à execução orçamental.

Na Segurança Social e na Caixa Geral de Aposentações (CGA) não se observam grandes variações em relação àquilo que têm sido os últimos meses. 
Do lado da despesa, é expectável que se registem poupanças face ao orçamentado nas principais rubricas da Segurança Social, sobretudo nas prestações de desemprego (158 milhões de euros) e na ação social (154 milhões de euros). 
Só as pensões da CGA deverão registar um ligeiro desvio negativo (40 milhões de euros).

Do lado da receita, as contribuições para a Segurança Social apresentam um aumento homólogo (+4,7%) ainda abaixo do previsto no OE (+5,7%), e assim poderão ficar aquém da meta em cerca de 165 milhões. 
A principal alteração verificou-se na melhoria das contribuições para a CGA: até maio, a variação homóloga nesta rubrica era nula, mas, graças ao crescimento mensal registado em junho (+25%), esta poderá representar uma importante ajuda no final do ano. 
A DGO atribui esta variação ao aumento das contribuições que decorre automaticamente das reposições salariais.


Coisas quase sérias
No final de tudo, uma ideia: salvo honrosas exceções, não, não ressalta da execução orçamental que o Governo ande a brincar com coisas sérias. 
Embora o faça com o spin orçamental habitual, também tem havido, como vimos, algum exagero em sentido inverso.

Neste momento, começa a desenhar-se a situação no final do ano: vamos ter um défice que quase atinge a meta da Comissão; um défice que, sem Banif, quase não desce face ao ano anterior; um défice que quase nos deixa descansados, mas parece agora quase certo que teremos algum tipo de medidas adicionais (é que a Comissão também faz contas como estas para a receita, por exemplo). 
Tudo isto numa economia que quase cresce.

Talvez, falando de coisas sérias (e aqui fica um contributo nosso), fosse melhor Governo e oposição concentrarem-se mais nisso – nas desilusões do investimento, do crescimento e das exportações – e menos em sanções e em brincadeiras com os números do défice.

Deixem isso para o público interessado, para o CFP, UTAO e, já agora, para os especialistas da DGO: que fazem muito com pouco e daqui, da nossa parte, um agradecimento sentido (e votos de boas férias).


Em evidência, a dificuldade do exercício: apesar dos desvios consideráveis, estamos a falar sempre de números marginais. A execução, as metas e a estimativa IPP: 2015 e 2016 (Clique sobre o gráfico para aumentar)
Coisas quase sérias


















[1] Neste exercício assumimos que os ajustamentos entre o défice em contabilidade pública e contabilidade nacional corresponderão exatamente ao previsto no Orçamento, “melhorando” o défice em 0,7% do PIB da primeira para a segunda. 
Os dados até maio parecem sugerir que se está no bom caminho nesse sentido (também graças a uma nova tabela incluída na síntese de execução orçamental relativa a esses ajustamentos, uma adição que registámos positivamos e agradecemos).

[2] A este propósito surge muito como atual, infelizmente, o capítulo de Pedro Pita Barros, “Despesa pública em Saúde: cortando nós górdios”, em Afirmar o futuro: políticas públicas para Portugal – volume I, Fundação Calouste Gulbenkian.

[3] A avaliação da execução orçamental dos impostos padece ainda de uma dificuldade contabilística adicional que resultou da entrada em vigor do Orçamento no dia 1 de abril. Como refere a síntese da DGO, estava prevista no OE uma reformulação contabilística que se traduziria na transferência de receita habitualmente inscrita na rubrica da receita Impostos indiretos dos Serviços e Fundos Autónomos (Impostos Indiretos SFA) para a rubrica da receita do ISP do Estado. 
Então, as dotações destas rubricas foram revistas em conformidade com esta reformulação, como é bem visível nas variações implícitas previstas no OE para os Impostos Indiretos SFA (-54,7%) e o ISP (+62,2%). 
No entanto, como o Orçamento só entrou em vigor a 1 de abril, durante os meses de janeiro a março, a DGO foi registando as receitas acumuladas nas rubricas em que era habitual serem registadas e não as reviu retroativamente com a reformulação introduzida pelo OE – aumentando virtualmente o grau de execução dos Impostos Indiretos SFA (em junho, já nos 91,9%) à custa da redução virtual do grau de execução do ISP (ainda nos 45,8%).


Esta situação, ilustrada pelos valores mensais destas rubricas (ver figura), implica que, se tudo corresse como previsto no Orçamento, a receita de ISP ficaria abaixo do orçamentado e a receita de Impostos Indiretos SFA ficaria acima do orçamentado no mesmo montante, devido à não-correção retroativa da forma de contabilização das receitas.

Em direto/ Centeno. Aumento de capital da Caixa ainda não tem valor apurado, vai depender de auditoria

CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS

Centeno diz que valor do aumento de capital da Caixa Geral de Depósitos não está fechado. Terá de ser apurado por uma auditoria pedida pela nova gestão. José de Matos propôs 2.000 milhões. Siga aqui.

ATUALIZAÇÕES EM DIRETO

19:48 Ana Suspiro
As últimas respostas do ministro das Finanças.

Mário Centeno assegura que o Estado vai fazer o mesmo para a Caixa que para outros trabalhadores do Estado: a reposição de salários de 2009 e de incentivos e progressões de carreira. É impossível gerir os trabalhadores do Estado sem esses instrumentos, diz.

A propósito do tempo que está a demorar a negociação do plano para a Caixa, Mário Centeno recorda que estamos lidar com instituições europeias da concorrência e da supervisão e com novas entidades da própria CGD, o que requer um grau de coordenação complexo. O ministro das Finanças reconhece ainda que o anúncio feito esta sexta-feira pelo Banco de Portugal que alivia as reservas de capital dos grandes bancos para 2017 “é uma boa notícia” e será considerado também no cálculo do valor do aumento de capital da Caixa.

Esta foi a audição mais curta, até agora. Apenas três horas. O início das férias ajuda a explicar. Também a disciplina imposta pelo presidente da comissão de inquérito, José Matos Correia, tem “encurtado” as audições na comissão da Caixa, em relação a outras que tiveram como objeto a banca A próxima reunião é 7 de setembro. Boa tarde e boas férias se for caso disso.

19:40 Ana Suspiro
Na terceira ronda, as trocas de apartes entre o deputado do PSD, Hugo Soares, e João Galamba, que faz um comentário sobre o desinteresse do PSD em investir num banco público, levam o presidente da comissão a pedir: “Por amor de Deus, Srs deputados, estamos quase a terminar. José Matos Correia pede logo desculpa a sorrir por ter posto em causa a separação de poderes entre o Estado e a Igreja.

19:30 Ana Suspiro
Sobre as remunerações da administração, Centeno justifica: o objetivo é colocar a Caixa como uma entidade que compete no mercado. E diz que a forma mais eficiente do acionista controlar essas remunerações. E garante que há também um compromisso com os trabalhadores da Caixa em matéria de salários.

O ministro das Finanças confirma que a análise e o plano que estão a ser debatidos com as instituições europeias são feitos com informação pública. Tem sido apresentada informação não reservada e não sujeita ao sigilo bancário.

É necessário um nível adicional de refinamento de informação para se definir qual é o nível de capitalização adequado para o plano de negócios que se pretende. Daí a auditoria, anunciada por Mário Centeno.

19:14 Ana Suspiro
As respostas de Mário Centeno na segunda ronda.

O governo tem a expectativa de que a potenciação do aumento de capital da Caixa é um investimento que poderá vir a gerar um retorno acionista para o Estado. Mário Centeno defende que a capitalização também é um investimento que pode vir a gerar dividendos. Aliás essa será uma condição essencial do plano para a Caixa de forma a convencer Bruxelas de que não se trata de uma ajuda de Estado. O aumento de capital também torna o banco mais robusto, coloca a Caixa numa perspetiva concorrencial mais forte que não é apenas nacional. É importante que a Caixa tenha acesso aos mercados.

Nessa medida, o ministro admite que os Cocos (as obrigações convertíveis em capital usadas pelo governo PSD/CDS para capitalizar a Caixa) são uma forma frágil de investimento acionista e recapitalização, embora gerem também remuneração (juros) ao investidor.

18:39 Ana Suspiro
Em resposta ao deputado socialista, João Galamba, Mário Centeno diz que não existe informação de que os desvios no plano de negócios da Caixa Geral de Depósitos tenham sido objeto de discussão nas avaliações da troika à execução do programa de Portugal, e em particular, das medidas previstas para a banca.

18:31 Ana Suspiro
Banco de Portugal alivia exigências de capital da Caixa para 2017

E nem de propósito. Durante a audição de Mário Centeno, o Banco de Portugal acaba de divulgar os novos requisitos de fundos próprios para instituições sistémicas no mercado português que aliviam as exigências de capital dos bancos a partir de 2017 e que vão baixar as necessidades de capital da Caixa Geral de Depósitos.

Esta imposição gradual vai retirar pressão sobre outros bancos “sistémicos” como o BCP, o Novo Banco, o BPI, Santander Totta e o Montepio.

O supervisor adiou a imposição da chamada almofada (buffer) de gestão que exigida aos bancos sistémicos a partir de 2017. A necessidade de constituir essa almofada financeira passa agora para 2018 e no caso da Caixa passa a ser metade do inicialmente previsto, desce de 1% para 0,5%. Este era uma exigência regulatória que obrigava a Caixa a aumentar o capital. Para cumprir a reserva de 100%, que agora só se aplica a partir de 2019, o banco do Estado precisava de mais 600 milhões de euros.

O Banco de Portugal explica que decidiu aplicar um regime de implementação gradual da reserva de fundos próprios para as instituições de importância sistémica, nos seguintes termos: 50% da reserva em 1 de janeiro de 2018 e 100% da reserva em 1 de janeiro de 2019.

“A aplicação de um regime de implementação gradual da reserva visa, primordialmente, assegurar que as condições impostas, nesta matéria, às instituições nacionais estão alinhadas com as aplicadas às suas congéneres europeias que operam em contextos macroeconómicos semelhantes”, refere o BdP em comunicado.

18:21 Ana Suspiro
Quem contratou consultores que trabalham com Domingues? Caixa e Estado não foram

Em resposta a Hugo Soares, Centeno diz que convidou António Domingues para presidir à Caixa Geral de Depósitos no final de março. O então vice-presidente do BPI começou logo a estudar as necessidades de recapitalização da Caixa, admite o ministro, mas assegura que mas não pediu ao gestor que contratasse nenhum consultor. “O Estado não contratou essa assessoria (da consultora Mckinsey e um escritório de advogados) e a Caixa neste momento não contratou essa assessoria”. E quem foi? Centeno diz que não sabe. Mas não desmente que estejam a assessorar o futuro presidente da Caixa.

18:13 Ana Suspiro
Valor do aumento de capital não está apurado. Gestão da Caixa propôs 2.000 milhões

O deputado do PSD volta à questão central deste inquérito. Qual será o aumento de capital do Estado na Caixa Geral de Depósitos? Centeno responde: as necessidades de capital vão ser identificadas por uma auditora que vai ser contratada pela nova administração.

Não sabe quanto é preciso pôr na Caixa? Centeno reafirma que o valor será identificado por essa auditoria. Então não sabe qual é o valor? Esse montante não está apurado. E os quatro mil milhões de euros que saíram nos jornais? O número, responde Centeno, não saiu do Ministério das Finanças e remete para a conferencia de imprensa que deu sobre tema em que não deu valores. .

E qual foi o valor apresentado pela anterior gestão no plano de capital entregue ao BCE em março? Era da ordem dos dois mil milhões de euros, responde Mário Centeno, que pela primeira vez adianta um número sobre as necessidades de capital da Caixa. O presidente José de Matos já tinha sinalizado que era um valor muito aquém dos números que circulavam na imprensa e que apontavam para 4.000 a 5.000 milhões de euros.

18:03 Ana Suspiro
Hugo Soares do PSD quer saber qual foi a responsabilidade de Mário Centeno nas projeções económicas que serviram de base ao plano elaborado pela Caixa em 2012/13. As projeções eram responsabilidade do Banco de Portugal, responde o ministro.

Hugo Soares pergunta a Centeno se teve influencia direta no estudo usado pela Caixa. Em 2012, Mário Centeno confirma que era diretor adjunto do departamento de estudos económicos do Banco de Portugal. A conclusão é óbvia, diz Hugo Soares.

18:00 Ana Suspiro
Miguel Tiago do PCP assinala as limitações do objeto da comissão de inquérito à Caixa e centra as perguntas no passado. Mário Centeno não sabe quanto a Caixa perdeu com o apoio a outros bancos.

O deputado comunista confronta o ministro das Finança com o plano que a Caixa apresentou à Direção Geral da Concorrência, o qual previa que o encaixe financeiro obtido com a venda dos seguros deveria ter sido usado para pagar os Cocos em 2014. Isto não foi cumprido.

17:54 Ana Suspiro
O processo de renovação do conselho de administração começou no final do primeiro trimestre, diz Mário Centeno. A comunicação foi feita à atual gestão quando o governo soube da aceitação dos convites. Foi feito numa reunião com José de Matos no Ministério das Finanças. Centeno não recorda a data, mas admite que terá sido a 13 de abril.

O novo conselho de administração é o adequado ao novo plano de negócios, explica.

17:40 Ana Suspiro
Centeno reafirma desvio na Caixa, mas esclarece que não é um buraco

As perguntas passam para João Almeida do CDS que insiste com Mário Centeno para que explique melhor o que quer dizer quando refere o desvio de 3.000 milhões na Caixa.

O ministro reafirma que se trata de um desvio face a um plano existente (que começou a ser implementado) e a sua execução, um desvio acumulado ao longo do período desde 2013 e até às previsões para 2017. “Não é nada de alarmante e é muito fácil entender”. Centeno explica que quis colocar algum realismo neste plano e defende a “urgência” de introduzir esse realismo no plano de negócios da Caixa.

João Almeida contra-ataca: o desvio de que Centeno fala não é só execução, inclui uma projeção até 2017. O que se sabe é até agora, esse desvio terá sido de 1.500 milhões de euros e resultará da diferença entre o resultado operacional previsto e o alcançado. Este indicador é muito influenciado pelas margens financeiras que, por sua vez, são muito penalizadas por juros baixos.

O deputado do CDS lembra que, para a maioria das pessoas um desvio é um buraco e insiste em saber qual a responsabilidade dos juros baixos, da politica económica, da revisão em baixa do crescimento e das opções de gestão nesse desvio.

O ministro reafirma que o plano (aprovado pelo anterior governo do PSD/CDS) “estava fora dos carris”, mas reconhece que “não é um buraco”. Mário Centeno acredita que a comissão de inquérito vai apurar responsabilidades e sublinha que “nada se ouviu do lado de quem estava a acompanhar esse plano” até ter chegado ao governo.

João Almeida acusa o governo de usar a caixa como “um instrumento na politica de comunicação do governo para desviar as atenções”.

17:29 Ana Suspiro
O deputado do Bloco pergunta Centeno: A Caixa foi subcapitalizada em 2012/13?

A resposta não é fácil, admite Centeno. É preciso voltar ao contexto desses anos. A verdade é que os bancos nos últimos anos viram-se confrontados com uma necessidade muito acrescida de capital, a nível regulatório e por causa do capital consumido na sua atividade. Se o contexto do sistema financeiro teve ou não uma abordagem adequada da sua capitalização, há análises muito variadas, lembra Mário Centeno. A verdade é que a situação da Caixa, nos últimos anos, veio a desembocar na avaliação feita pela administração da Caixa em 2015 que concluiu pela necessidade de mais capital. Não coloca problemas diretos de operação ao banco, mas é uma matéria estratégica.

17:14 Ana Suspiro
Centeno fala em desvio sistemático e constante entre o plano e os resultados da Caixa

As perguntas começam por Moisés Ferreira do Bloco de Esquerda.

O ministro das Finanças admite que a Caixa não era a maior preocupação quando o governo tomou posse. “Havia outras urgências mais urgentes quando o governo tomou posse (final de novembro)”, designadamente o Banif. Centeno assinala que tinha conhecimento das necessidades de capital da Caixa Geral de Depósitos, que explica o desvio muito sistemático e constante em todos os anos desse plano, face ao plano de reestruturação de 2013 e lembra a evolução negativa das taxas de juro.

17:06 Ana Suspiro
Centeno revela os compromissos, mas recusa revelar novo plano de negócios

Centeno elenca os quatro compromissos assumidos para a Caixa:
  1. Os novos gestores estarão focados na atividade bancária. E neste ponto o ministro das Finanças justifica a polémica decisão de rever o estatuto do gestor público, permitindo um aumento das remunerações da administração da Caixa Geral de Depósitos. Os novos estatutos, diz, permitem uma remuneração que “traduz o grau de compromisso dos gestores com o plano de negócio. Os administradores executivos têm por isso uma remuneração mais alta que os não executivos, o que não era garantido pelo anterior modelo. Centeno recorda que por causa das exceções, os gestores podiam optar, e optaram, pela média das últimas três remunerações. “Não se pode dizer que havia um teto salarial. Não havia correspondência entre o salário e as funções desempenhadas. Os gestores eram remunerados pelo que tinham feito no passado e não pelas funções na Caixa”.
  2. Um plano de negócios, que envolve uma reestruturação e uma recapitalização, em relação ao qual Mário Centeno deixa o aviso: “não falarei do plano de negócios nesta comissão”, mas garante que a qualidade do plano será revista por entidades externas independentes e pelas entidades europeias.
  3. Manter a Caixa nas mãos do Estado
  4. Um compromisso com os trabalhadores

16:59 Ana Suspiro
O governo, diz Centeno, tem desenvolvido desde dezembro um esforço para projetar a Caixa para o futuro. Reuniu com a administração atual no dia 2 de dezembro de 2015. Desde esse dia e até abril reunimos oito vezes.

Ao acionista não cabe interferir na gestão, mas desenhar um caminho para o futuro. E o governo “pretende realizar um projeto único na historia da instituição que contribuirá para o papel da Caixa” e se propagará à economia.

16:57 Ana Suspiro
Desvio de 3.000 milhões é entre o resultado alcançado e o previsto no plano de 2013

Mário Centeno faz intervenção inicial.

Lamenta os aproveitamentos e insinuações que vieram a público sobre a sua indisponibilidade imediata para ser ouvido e reafirma a sua disponibilidade. “O governo não alimentará incertezas nem ruídos que temos assistido nos últimos tempos”. Mário Centeno recorda que todos os presentes na sala têm responsabilidade. A Caixa é uma instituição de confiança, poço seguro das poupanças e desempenhou um papel fundamental no período do ajustamento. Mas não passou imune aos problemas económicos.

Centeno recorda o plano de recapitalização realizado em 2013, que levou à injeção de 1.650 milhões de euros no banco do Estado. O ministro refere um desvio significativo no resultado alcançado e face ao perspetivado para o final de 2017. Confirma o valor de 3.000 milhões de euros que explica como diferença entre o plano e a execução.

16:44 Ana Suspiro
O ministro das Finanças acabou de chegar. Esta audição de Mário Centeno será praticamente a última sessão de trabalho no Parlamento antes das férias de Agosto.