quinta-feira, 28 de julho de 2016

Exigências do Banco de Portugal vão custar 600 milhões à CGD


COMISSÃO DE INQUÉRITO CGD
Filipe Paiva Cardoso
28.07.2016 / 11:20
O presidente da Caixa Geral de Depósitos, José de Matos, na CPI ao banco. (TIAGO PETINGA/LUSA)

José de Matos diz que os quatro mil milhões de que se fala são “claramente superiores” ao cenário com que trabalhava 

As exigências impostas pelo Banco de Portugal à Caixa Geral de Depósitos, a partir de 1 de janeiro de 2017, vão custar 600 milhões de euros, concorrendo para as “elevadas necessidades de capital” que o banco hoje acumula, revelou ontem José de Matos, o ainda presidente do banco público. 
Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, exigiu o aumento em mais um ponto percentual na reserva de fundos próprios, ao abrigo de um novo enquadramento que visa “atenuar períodos de crescimento excessivo do crédito.” 

O responsável da CGD apontou ontem aos deputados que cada aumento de 1 ponto percentual exigido pelo Banco de Portugal nos rácios do banco público implica um custo de 600 milhões de euros, confirmando assim o noticiado pelo “Dinheiro Vivo” no final de maio. 
No caso do banco público, o BdP exigiu para 1 de janeiro de 2017 o aumento em mais um ponto percentual na reserva de fundos próprios ao abrigo de um novo enquadramento que visa “atenuar períodos de crescimento excessivo do crédito”.

Sem criticar diretamente as opções e as sucessivas revisões das exigências impostas pelo Banco de Portugal, José de Matos não deixou de dedicar a este tema grande parte da sua primeira audição da comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à gestão do banco (CPICGD). 
“As necessidades de capital provêm essencialmente de novos requisitos de capital, mas também de diversos fatores externos, que afetaram o desempenho da CGD”, disse aos deputados.
O ambiente de taxas de juro baixas, a limpeza do balanço a que procedeu na Caixa e o débil crescimento económico são outros fatores a pesar no banco e no setor financeiro. 

A urgência de capitalizar a CGD tornou-se evidente no primeiro semestre de 2015, graças a “uma evolução que, particularmente no curto prazo, resultou das referidas exigências regulatórias e foi-se traduzindo em previsões de necessidades de capital progressivamente mais elevadas e mais urgentes”. 
E apesar das medidas de compensação que o banco tomou, nem essas foram suficientes “para satisfazer o reforço muito acentuado das exigências prudenciais”. 

Quatro mil milhões? 

A quantificação da dimensão de fundos que a CGD necessita foi um dos temas que os deputados do PSD mais tentaram apurar junto de José de Matos. 
O CEO do banco procurou não fazer qualquer comentário sobre o mesmo, mas, depois de larga insistência, acabou por admitir que o valor que tem sido veiculado é claramente superior ao que chegou a trabalhar junto do Banco Central Europeu quando debateu a questão. 
“Os valores com que eu trabalhava, no passado, partiam dos mínimos e também de um buffer [almofada] mínimo”, explicou. 

Mas se ainda não é possível calcular ou aferir quanto irá exigir o banco público, há contas que podem já ir sendo feitas. 
Além dos 600 milhões exigidos pelas novas regras do Banco de Portugal, deverão juntar-se 900 milhões em CoCos ainda detidos pela CGD – provavelmente transformados em capital – e um valor ainda não quantificável para a almofada que a nova administração, liderada por António Domingues, deverá exigir. 
Além da injeção que o Estado terá de fazer no banco público e os custos da reestruturação que este enfrentará.

Os futuros cortes a que o banco público vai ser obrigado – seja pelo enquadramento do negócio seja por imposição das autoridades – foi outro dos temas que os deputados quiseram aprofundar. 
E o CEO não poderia ter sido mais claro: “Não há economia para tanta banca neste país. Os bancos vão ter de encolher.” 
José de Matos foi mais longe ao considerar que a CGD errou quando tentou tornar-se um grande banco global, participando em projetos de financiamento em infraestruturas um pouco por todo o mundo. 
“Nem a Caixa nem Portugal têm dimensão para que o banco tivesse uma escala global.” 

E não iludiu ninguém quanto ao que aí vem – a reestruturação que a CGD já tem em curso não só “precisa de ser continuada” como o seu ritmo atual “pode nem chegar”. 
“O que fizemos foi um bom princípio mas vai ter de continuar, provavelmente a um ritmo mais acelerado.” 
E a redução de pessoal vai prosseguir. 
“É impossível reestruturar sem reduzir a dimensão, até por causa das novas gerações, que vão menos aos balcões.”

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