terça-feira, 12 de julho de 2016

Deutsche Bank. Uma situação “assustadora” de “alertas já indisfarçáveis”

BANCA
Filipe Paiva Cardoso
07.07.2016 / 14:55




















"Algo que nos deixa ainda mais preocupados é o contágio a toda a banca", alerta João Queiroz. O Deutsche é dos bancos com mais ramificações globais.

Com as ações em mínimos históricos e os custos para contratar seguros contra o risco do crédito (CDS) das obrigações do Deutsche Bank a valores mais altos que os registados em 2008, aquando do colapso do Lehman Brothers, a situação crítica do gigante alemão está cada vez mais difícil de ignorar. 

“A situação do Deutsche Bank já fez tocar muitas campainhas, os sinais de alerta já são indisfarçáveis”, diz João Queiroz, Diretor de Negociação do Banco Carregosa, em declarações ao “Dinheiro Vivo”. 
E concretiza: “As ações do DB estão em mínimos históricos, a dívida subordinada e a dívida perpétua estão a corrigir abaixo dos 100% e os CDS (seguros para fazer face ao incumprimento da dívida) estão a valores mais altos do que em setembro de 2008, o mês da falência da Lehman.”

Se no início deste ano o custo de contratar um seguro contra o risco do Deutsche rondava os 180 euros, hoje os CDS contra a dívida a cinco anos do banco alemão já estavam perto dos 480 euros. 
Se alargamos o período da análise, a subida no custo para estar protegido dos títulos é ainda mais elevada.

“Os investidores têm que pagar um preço muito elevado para poderem cobrir o risco de crédito das obrigações do DB. 
Os CDS da dívida sénior, a 5 anos, do DB vêm dos 60 (de fevereiro do ano passado) para 247 pontos de hoje. 
A 30 de setembro de 2008, os CDS para este tipo de dívida foram aos 158. 
É um sinal alarmante do risco de crédito que os investidores atribuem em DB”, detalha João Queiroz.























CDS divida subordinada a 5 anos do Deutsche Bank

Chumbo no teste de stress aumentou alarmes 

Com um governo que tem fugido às questões sobre as crescentes dificuldades e pressões sobre o Deutsche Bank, tem cabido às principais entidades financeiras mundiais tentar chamar a atenção para o risco sistémico que o colosso alemão faz pender sobre toda a economia mundial. 

O Fundo Monetário Internacional alertou a 30 de junho que o Deutsche Bank apresenta o maior risco para a estabilidade financeira mundial, na última atualização ao Financial Sector Assessment Program, documento onde pede ao governo alemão que confirme ter todas as ferramentas para lidar com uma resolução bancária. 

No mesmo dia, a Reserva Federal divulgou que as subsidiárias norte-americanas do Deutsche Bank e do Santander chumbaram no teste anual de stress daquela autoridade, devido a falhas nos planos de capital e de gestão de risco. 
E este terá sido um dos catalisadores de nova fuga de investidores do banco alemão. 
Até porque no final do mês serão conhecidos os resultados dos testes de stress na Europa.

“A verdade é que os investidores estão a desfazer-se rapidamente dos papéis do Deutsche Bank, o maior banco da Alemanha e um dos maiores da Europa. 
Os ativos do Deutsche Bank são quase metade do PIB alemão. 
Os sinais alarmantes agudizaram-se desde que o banco falhou os testes de pressão (testes de stress) dos EUA e à medida que se aproxima a data em que terá que se adequar aos novos rácios de capital, exigidos para os bancos europeus”, comenta João Queiroz ao Dinheiro Vivo. 

“Algo que nos deixa ainda mais preocupados é o poder de contágio a toda a banca europeia e não só: o DB é, dos bancos universais, aquele que mais tem relações com outras instituições de crédito”, conclui o Diretor de Negociação do Banco Carregosa. 

Ontem, o mesmo responsável do Carregosa, e em declarações ao Dinheiro Vivo sobre a situação italiana, já tinha apontado como “bastante assustador” o facto de o mercado atualmente atribuir ao Deutsche Bank uma capitalização bolsista a rondar os 17 mil milhões de euros, quando a instituição detém mais de 1,6 biliões em ativos.

Itália, Alemanha, as regras e os contágios 

Ontem, e em declarações sobre a situação da banca italiana, a equipa de research do BiG alertou para o impacto que a recapitalização dos bancos transalpinos pode ter no restante sistema financeiro, em declarações ao “Dinheiro Vivo”. 

Há, neste momento, duas opções em cima da mesa em relação à Itália e ambas acarretam riscos de dimensões difíceis de prever. 
Por um lado, Matteo Renzi pode furar as regras europeias e avançar com a recapitalização da banca sem impor perdas aos credores privados. 
Uma decisão deste género poderia aliviar o stress sobre a banca mas representaria mais um golpe à credibilidade do projeto europeu. 

“Caso Bruxelas decida quebrar as regras de resgates à banca que entraram em vigor este ano, deixando o Estado italiano participar no resgate (…), isso poderia aliviar o stress sobre os bancos, mas iria enfraquecer a credibilidade nas regras e o tecido político de Bruxelas, exacerbando o discurso anti-bancos e reforçando as forças mais radicais”, apontou o BiG. 

Mas se Bruxelas forçar a imposição de perdas nos bancos italianos a troco de recapitalização, a situação pode tornar-se igualmente perigosa: “Caso a UE não deixe quebrar (…) poderá haver consequências imprevisíveis e graves seja a nível financeiro, seja político – forçando perdas a acionistas, credores e depositantes, o que poderá gerar um evento de risco sistémico tendo em conta a magnitude do nível de recapitalização” em preparação em Itália. 
E neste impacto sistémico voltamos a encontrar o Deutsche Bank.
“Este será o ‘último muro’ até aos riscos/incerteza que pairam sobre o nível de capitalização dos maiores bancos europeus – por exemplo o Deutsche Bank – , o que poderia equivaler a uma espécie de momento ‘Lehman’ para todo o sector financeiro Europeu”, apontou a equipa de research do BiG ao Dinheiro Vivo.

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