Helena Pereira - 30/07/2015
PS não poupa programa eleitoral do PSD/CDS e lamenta falta de cálculos de impacto orçamental das medidas.
"Não é assim que se faz política".
Mário Centeno, candidato a deputado e coordenador do cenário macroeconómico do PS, critica a ausência da quantificação de medidas no programa eleitoral da coligação PSD/CDS, considerando mesmo que se pode estar perante autênticas “bombas atómicas”.
É o caso do plafonamento das pensões.
Em declarações ao Observador, o economista lamenta que se não se possa discutir com seriedade as propostas do PSD/CDS.
“Não é assim que se faz política, muito menos em tempo de eleições.
Aos olhos de um economista o que salta à vista é o que não está lá.
Não está nada quantificado.
Não estão identificados os custos de cada medida de modo individual.
E há aqui potenciais bombas atómicas”, afirmou.
No caso do plafonamento da segurança social, Centeno diz que se pode estar perante uma medida com um impacto de 2,3 mil milhões de euros a menos nos cofres da Segurança Social.
“Se estivermos a falar de descontos opcionais para outros sistemas em salários acima dos 2.000 euros, isso significaria 17% das receitas da segurança social, o que daria 2,3 mil milhões de euros”, explicou, salientando que em Portugal apenas “8% dos trabalhadores recebem mais de 2.000 euros”.
Quando o PS apresentou o seu cenário macroeconómico, o PSD enviou um conjunto de 29 perguntas a pedir mais detalhe nas contas apresentadas e os socialistas (ou melhor, Mário Centeno) responderam-lhes.
Questionado pelo Observador se vai optar pelo mesmo método e questionar o PSD, o economista nega.
“As perguntas são feitas por vocês e pelos cidadãos, é legítimo toda a gente fazer perguntas”.
Mas o programa do PS não diz em detalhe quanto vale cada medida apresentada.
Centeno diz que essas contas existem.
“Essas quantificações vão aparecer mas de qualquer forma 95% das medidas com incidência orçamental já estão quantificadas no cenário macroeconómico”, explica.
Centeno questiona o custo também de medidas como a reposição dos 4º e 5º escalões do abono de família, novos apoios para os avós e apoios domiciliários.
De qualquer forma, confessa que não achou “estranho” a omissão do PSD/CDS a avaliar pelo “calibre” das perguntas que lhe foram feitas a propósito do cenário macroeconómico que revelavam “desconhecimento” das matérias.
O economista diz ainda não ter encontrado “verdadeiramente nenhuma reforma estrutural” e, sobre as isenções de TSU propostas para o interior, lembra que já existem atualmente cerca de “460 milhões de euros em isenção em Taxa Social Única”.
Também o secretário-geral do PS, António Costa, comentou esta quinta-feira a ausência de cálculos da coligação PSD/CDS, depois dos sociais-democratas terem criticado o PS por mostrar poucos números.
“Nesta fase da vida nacional, não é possível apresentar um programa sem apresentar contas.
No caso do PS foi duro, porque durante muito tempo fomos criticados por não fazermos promessas, mas apresentámos depois um cenário macroeconómico com o estudo do impacto e da exequibilidade de cada medida que propusemos”, declarou, considerando que o exercício do PS é “mais prudente”.
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