BANCA
Pedro Lima e Sónia M. Lourenço 29 de Setembro de 2018
Está difícil encontrar um presidente do conselho de administração para o banco. Por isso, Carlos Tavares mantém o cargo
O Montepio vai continuar a ter o mesmo presidente do conselho de administração e executivo por mais algum tempo.
O Banco de Portugal (BdP) acedeu ao pedido para prolongar o período desta solução transitória, permitindo que Carlos Tavares continue a acumular os dois cargos.
O gestor já tinha sido confirmado, em 20 de julho, como presidente executivo, mas falta agora cumprir a determinação de ter outra pessoa a liderar o conselho de administração (não executivo).
O pedido de prolongamento foi feito pela associação mutualista — detentora de praticamente 100% do capital do banco.
E a expectativa do BdP, ao aceitar o prolongamento do prazo, é que em muito pouco tempo se encontre uma solução — nomeadamente até 7 de dezembro, data das eleições para a associação mutualista.
Será um período inferior aos seis meses concedidos inicialmente.
O BdP recusa fazer comentários sobre o assunto, nomeadamente quanto ao prazo que foi dado para se chegar a uma solução.
Mas o “Jornal Económico” avançava ontem que é por mais quatro meses.
TOMÁS CORREIA AINDA NÃO DECIDIU
Só que encontrar um nome que gere consensos não está a ser tarefa fácil.
A associação mutualista está bastante dividida a pouco tempo das eleições para a sua presidência.
De um lado está António Tomás Correia, presidente da associação, e do outro estão os seus críticos —incluindo Fernando Ribeiro Mendes, administrador da associação mutualista e que já se declarou como candidato à presidência — que não se têm coibido de criticar publicamente Tomás Correia e lançaram inclusivamente um manifesto que diz pugnar por “candidatos idóneos” nas eleições de 7 de dezembro.
O Conselho Geral não chegou a entender-se quanto ao nome inicialmente apontado para o cargo — Álvaro Nascimento, professor universitário e ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD).
Por isso, o nome não foi formalmente comunicado ao BdP, apenas tendo havido uma consulta prévia — uma forma de testar o nome — de forma a perceber se havia alguma oposição.
Ao Expresso, Tomás Correia disse que ainda não decidiu se se candidata a mais um mandato.
A decisão será tomada durante o mês de outubro, sendo que o prazo para apresentar candidaturas termina no dia 31 desse mês.
Em aberto está a possibilidade também de patrocinar uma candidatura.
DIVISÕES NA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA CONDICIONAM NOMEAÇÃO DE PRESIDENTE DA ADMINISTRAÇÃO
O presidente da associação mutualista considera que, apesar de ter sido acusado pelo BdP de irregularidades graves quando era presidente do Montepio, isso não o impede de se candidatar a mais um mandato, porque o novo Código das Associações Mutualistas só entra em vigor no próximo ano.
Quer Tomás Correia quer os outros oito ex-gestores acusados apresentaram já a sua defesa, pelo que o BdP, que está agora a analisar os elementos entregues, decidirá então se avança para uma acusação ou se os iliba.
No caso de haver acusação, poderá ainda haver recurso.
Tomás Correia está também a ser acusado, por membros do Conselho Geral da associação mutualista, de ter ‘sonegado’ informação financeira relativa ao primeiro semestre. Segundo o “Público”, queixam-se de que houve uma “alteração do modelo informativo habitual”, que “sonegou o acesso aos números do balanço e da demonstração de resultados”.
Algo a que Tomás Correia, em declarações ao Expresso, diz ser “mais do mesmo, faz parte da campanha eleitoral”.
BANCO MELHORA RESULTADOS
Enquanto a Associação Mutualista procura o seu rumo, o banco continua a tentar recuperar a sua atividade.
Com os lucros a subirem na primeira metade do ano — atingiram €15,8 milhões, aumentando 21,1% em termos homólogos —, Carlos Tavares considerou que “é um resultado ainda modesto, mas positivo”.
Para esta evolução contribuíram o aumento de 3,9% nas comissões líquidas (para €57,4 milhões), bem como a redução dos custos operacionais em €4,5 milhões.
O resultado contou também com a ajuda da redução de 33,2% das imparidades (nomeadamente de crédito), para os €59,5 milhões.
Em sentido contrário, a margem financeira diminuiu, fruto, entre outros fatores, de alguma redução do montante de crédito.
O banco prepara-se agora para atacar uma nova fase.
O plano de transformação preparado pela equipa de Carlos Tavares é de “profunda mudança”, disse aos jornalistas.
E passará por trabalhar “nos segmentos da população menos beneficiados por serviços bancários”.
Lembrando que, “fruto da reestruturação da banca, muitas áreas ficaram sem relação de proximidade” com a banca, Carlos Tavares anunciou que o Montepio vai abrir 10 balcões até ao fim do ano, no âmbito de um projeto de “abertura de pequenos balcões de proximidade, com custos controlados, em zonas com potencial e que podem ser diferentes das tradicionais”.
Carlos Tavares disse também que a Caixa Económica Montepio Geral vai mudar de marca comercial ainda este ano.
O nome nos balcões vai mudar — sendo certo que a designação Montepio se manterá — mas o banco vai manter-se juridicamente como Caixa Económica.
Também o Montepio Investimento mudará de nome e vai tornar-se banco de empresas.